quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A FARSA DO HEK KI BOEN WING CHUN NO BRASIL



Ontem tive uma ótima conversa com o introdutor do HFY Wing Chun no Brasil - antes um adversário nos fóruns de internet - e hoje um amigo virtual que vejo com muito carinho, especialmente depois daquele susto de anos atrás em que ele e sua família foram fuzilados pela polícia do Rio de Janeiro, mas sobreviveram para contar a história. Pois bem. Agora Marcelo Alexandrino, juiz de direito, pai e cidadão dedicado é um praticante de Choy Li Fut muito satisfeito pois encontrou um mestre que domina todo o aspecto técnico, moral e filosófico daquilo que ensina. Contudo, mesmo distante de nossa arte, Alexandrino ainda se preocupa com os caminhos do Wing Chun.

Dispus-me, de alguns anos para cá,  em tudo ajudá-lo para desmascarar essa praga que cresce no Brasil a partir do nordeste que é a escola de

Hek Ki Boen Eng Chun ou Black Flag Wing Chun

Wing Chun de Benny Meng, que curiosamente parte de um conhecimento legítimo para enganar brasileiros com suas saladas marciais, que vende como o Wing Chun "original", além de vender diplomas dos estilos em que se formou (vide depoimento de ex-praticante na comunidade Wing Chun - Brasil no facebook), com a chancela de uma entidade fundada por ele mesmo, o Ving Tsun Museum, sediado em Ohio, US. Mestre de segunda geração algumas linhagens de Wing Chun originais vindas de Yip Kai Man (1893-1972), Meng encontrou um nicho de mercado ao explorar os anseios de praticantes insatisfeitos em suas escolas por todo o mundo e que gostariam de explorar novos horizontes e quebrar a forte reservada de mercado que é feita em cima dos estilos mais populares, derrubando preços e oferendo status que estas pessoas jamais teriam em suas escolas de origem. Ao procurar as origens históricas do Wing Chun Kuen, Meng conheceu e propagou versões históricas de outros estilos da arte e bateu duramente nas tradições do estilo de Yip Man, dividindo fortemente a opinião da comunidade Wing Chun internacional, não tanto por seu conteúdo, mas por seus métodos. Depois de romper com os líderes de dois destes estilos, acabou criando um estilo de Wing Chun misturado com Vikoga e Dezoito Mãos de Lo Han, este último um estilo Hakka provavelmente adaptado do Bak Hok Kuen (Garça Branca) e disseminado na indonésia. Até aí, tudo bem. Mas novamente Benny Meng passou a contar uma lorota que envolveria sociedades secretas chinesas e locais, ao invés de admitir que estava criando algo novo.

Marcelo, ao ver repetir-se a farsa novamente (ele foi aluno de Meng no Brasil no HFY antes de treinar com o grão-mestre deste estilo, Garret Gee), conheceu o professor do mestre (Lin Xiang Fuk) que hoje Meng promove, e com ele fez amizade. Ontem pude assistir a uma forma do estilo Dezoito Mãos de Lohan (filmada recentemente por Marcelo em NY e executada pela filha do mestre Tio Tek Kwie com habilidade, calma e precisão impressionantes) e pude ver mais uma vez o quanto nós brasileiros estamos sendo enganados. Posso afirmar categoricamente, como conhecedor de conteúdos avançados do sistema como Luk Dim Boon Kwan e Baat Jaam Dao, e estudioso da história e métodos de outros estilos de Wing Chun, que não há qualquer semelhança que sequer vagamente lembre uma defesa, uma postura, um gesto e sequer um soco de Wing Chun Kuen Phai, seja da linha de Yip Man, seja dos estilos de Foshan mais assemelhados ao Kung Fu de Siu Lam (Shaolin) na forma mais básica a que pude assistir.

Evidentemente não é um texto de internet que vai mudar este panorama. Gente dessa laia se vale da boa fé das pessoas, e, com seu discurso de seita e ancorado em valores caros às pessoas de bem, continuará crescendo. Mas é nossa obrigação social dar ferramentas para que as pessoas façam escolhas mais conscientes. Eu espero que Marcelo consiga no futuro a divulgação deste e de outros vídeos, uma vez que ele foi iniciado em Dezoito Mãos de Lohan, para fique ainda mais claro para o público que ama Wing Chun que nós não somos trouxas, que nós brasileiros sabemos distinguir dois estilos completamente diferentes entre si, se pudermos olhá-los com a devida honestidade. Segue abaixo um vídeo com legendas em inglês da entrevista em que Grão-Mestre Tio Tek Kwie expõe a farsa, admite que ajudou seu estudante no começo para ajudá-lo financeiramente, mas que ao reconhecer a gravidade de seus atos se arrependeu e pede desculpas a toda a comunidade Wing Chun internacional. Expor-se dessa forma humilde e reconhecer a gravidade de suas ações foi um grande ato de coragem e redenção da vida real que só reforça nosso amor pelo verdadeiro Kung Fu.




Eu pessoalmente não tenho qualquer vantagem com isto que não tenha a ver com mero dever cívico, como brasileiro, patriota, e praticante pobre que ralou e muito já foi enganado e enrolado, como muitos o estão sendo agora. Há muitos estrangeiros aplicando golpes de milhares de reais neste exato momento, com Wing Chun e muitos outros estilos. Muitos garotos estão neste momento trabalhando para pagar por este conhecimento fajuto. O Wing Chun, já tão pouco respeitado no mundo das artes marciais por sua ineficácia em 90% das escolas, não merece isso aqui no Brasil. Ademais, por mais que me preocupe com as pessoas que são enganadas por este lixo, este perfil de praticante não é do tipo que aceito em minha escola, uma vez que não recebo estudantes para se deslumbrarem com histórias inventadas e fantasiosas de sociedades secretas e outras baboseiras que nada tem a ver com treinar muito duro e fazer uma escola de fato. É por respeito a estas pessoas e minha arte que posto, mas elas teriam de amadurecer demais para treinar comigo ou qualquer outro que faz arte marcial com seriedade. Que elas se reconheçam como lesadas e tenham coragem de encarar um novo começo. A farsa montada por Lin, Meng e seus asseclas (vítimas? Nem todos, mas quem somos nós para saber) brasileiros é elaborada para seduzir e enganar pessoas de boa fé que acham que fazer parte de uma suposta tradição é que é o legal, quando na verdade a única atitude que efetivamente honra o passado é o nosso comportamento no presente. E como estão sendo o Wing Chun e o Dezoito Mão de Lohan desonrados!







Destrinchando o Muk Yam Jong, o boneco de madeira do Wing Chun, em uma análise de caso. Parte II

Pois é, assim como o personagem do game Tekken, Mukujin ( 木人) lit. Pessoa de Madeira, Uma corruptela de seu alter ego, Muk Yan Jong ( 木人...