domingo, 24 de novembro de 2013

MINHA VIDA NO KUNG FU - Depoimento por Ricardo Dantas

Sou Ricardo, 36 anos, da cidade de Picos interior do Piauí, resolvi escrever um resumo sobre minha experiência com as artes marciais em especial o kung fu wing chun, onde tenho uma vivencia de quase duas décadas (março de 2014 farei 20 anos de wing chun), até os dias atuais treinando Applied Wing Chun com Sifu Marcos Abreu, para mostrar minha satisfação nesse meu novo caminho 

Ricardo viu em SiFu Marcos a chance de ter acesso à técnica original da luta

Ricardo viu uma nova maneira encarar a relação pessoal com um Mestre


Todo amante de artes marciais com mais de 30 anos, deve ter assistido muitos filmes de kung fu pela rede Bandeirantes, lido os livros do Marco Natali, e treinado as técnicas dos mesmosPois comigo não foi diferente. Fui influenciado por tudo isso, comecei nas artes marciais bem pequeno querendo aprender kung fucomo não tinha na cidade iniciei no Taekwondo, depois aprendi com um amigo a Capoeira. De 1989 a 1990 treinei Karatê Goju Ryu (parei de treinar porque o Sensei foi embora), arte marcial que até hoje tenho um grande respeito, mas queria treinar kung fu em especial o  wing chun. Em 1993, li uma matéria na revista Combat Sport onde tinha os endereços de professores de Wing Chun da UNK, o mais próximo era um Sifu do Ceará, iniciamos os treinos em março de 1994, em 1995 formei um grupo, em 1996 abri uma academia na minha cidade, fui campeão estadual em luta. Nesse período a UNK já estava representando o Sifu Chow, de 1997 a 1999 tinha grupos de treino em outras cidades, tive alguns alunos que vieram da linhagem Moy Yat

Ricardo comemorando vitória em campeonato


Em 1998 iniciei no Tai Chi Chuan estilo Yang com o Sifu Ocimar Barbosa de Teresina, passei o ano de 2001 morando em Teresina onde dava aulas em três academias da Eugênio Fortes (maior rede de academia do estado), nesse período fiz sucesso com o wing chun, até mesmo porque em Teresina era muito pobre de wing chun, tinha muito wing chun de livro como chamávamos Conheci em Teresina um professor de wing chun que dizia ter treinando com Li hon Ki em São Paulo, mas não gostei da forma como ele me mostrou o sistema que no futuro por ironia se tornaria o sistema onde compreenderia melhor meu wing chun (isso é um exemplo de como é importante termos um sifu que saiba passar o sistema). Continuei treinando o sistema da UNK até 2003,  eu já tinha o nível de Biu Jee na década de 90. Em 2004 fui treinar em Fortaleza-Ce, o sistema da WT hoje ISMA, apreciei algumas ideias, mas por questões pessoais resolvi continuar treinando independente. Sempre mantive contato com o meu primeiro Sifu da UNK, onde até hoje tenho um enorme respeito e admiração por me ajudar tanto no meu caminho do kung fu. 
                                                                             

Com seus dedicados colegas. Tempos na linha de Sifu Chow, muito respeitada no Brasil.
                                                                                                                                                                                                                                                                                           



Ricardo com os colegas de outro estilo de Wushu




Em novembro 2013, voltei a Salvador, Sifu me recebeu na casa dele juntamente com seus pais o Sr. Israel e Dona Margareth os quais me receberam muito bem, me deixando a vontade, fiz um ótimo treino, agora mais ainda compreendendo uma arte marcial tão eficiente como é o wing chun ensinado pelo Sifu Marcos Abreu. O mesmo me explicou  técnicas que até então tinha dúvidas de como aplicar de forma eficiente. Sou um amante, praticante, lutador e pesquisador das artes marciais, em especial o kung fu Wing Chun e Tai Chi Chuan, nesses quase 20 anos de wing chun lutei em dois campeonatos sendo campeão e vice, troquei várias experiências de lutas com praticantes de diversos estilos de kung fu, e outras artes marciais, tive na década de 90 um Si Hing que era um lutador amante das lutas de vale tudo, treinei muito com ele não só wing chun mas também jiu jitsu, eu pretendia fazer vale tudocomo todo praticante de arte marcial que gosta de luta e lutava bati muito, mas também apanhei muito sempre buscando aplicar o wing chun, e percebia que tinha técnicas treinadas que não conseguia aplicar nessas lutas, não sou leigo e sempre muito crítico em relação a artes e professores que se dizem deter capacidade de super defesa pessoal, o estilo infalível, técnicas secretas e tudo mais, tive a oportunidade de conhecer e treinar wing chun de quatro linhagens, e sei discernir pelo menos pra mim o que possa ser bom ou não, nesse caso nas artes marciais, então acredito que encontrei o que buscava, um sistema e Sifu que possa me mostrar o norte no meu caminho do kung fu. Sei que cada um encontra o seu caminho, o que é bom pra um pode não ser para outrem, e esse está sendo o meu caminho com muita satisfação.  Seguem abaixo as fotos de minha trajetoria...



Com antigos parceiros de treino


...e nos tempos atuais, aplicando Din Choi (Soco Arco e Flecha vide texto sobre Luk Din Boon Kwan) com excelente técnica. Nunca é tarde para um recomeço.


Sempre que podem todos os irmãos-kung fu treinam junto com os iniciantes. Humildade é palavra de ordem da escola

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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ME BATE QUE EU TE MOSTRO - a conversa mole, a farsa e a violência como componente das demonstrações de artes marciais. - Por SiFu Marcos Abreu




NÃO ACREDITA EM MIM? PODE BATER.

Acabo de ler num fórum de internet onde sou moderador uma declaração muito bonita de um estudante sobre as habilidades de seu Mestre. Segundo este estudante, seu mestre é capaz de proezas de que poucos na posição dele são; ele é rápido, astuto e pode derrotar um homem em segundos. Para confirmar sua tese, ele menciona um episódio em que um cético invadira a sua academia, a princípio por troça, mas acordara depois do mestre desafiá-lo:

- Bata-me do jeito que quiser!

Eu que sou macaco velho em arte marcial notei neste depoimento uma ocorrência muito comum no ritual das visitas de curiosos a academias de luta: o batidíssimo..."- Me bate que eu te mostro!"

O "Me Bate que Te Mostro" é um ato de demonstração de um mestre habilidoso na arte de conduzir pessoas, e depende necessariamente de pessoas impressionáveis, assim como o hipnotizador precisa de uma pessoa suscetível, para que suas habilidades apareçam, ou do logro sério do estelionatário, que se vale do desespero alheio para que a obviedade mentirosa de seu truque seja ofuscado pela ânsia ou ambição da vítima.

Não é preciso dizer que o mestre defendeu o golpe do ousado rapaz que veio de fora. Mas é claro que sim. A partir do momento em que dou um comando, eu tenho o "tempo certo" para agir. No Wing Chun, uma luta que já é feita para reações rápidas na curta distância e na condição da desvantagem, essa premissa é particularmente necessária.


MOSTRA DE UM LUTADOR DE RINGUE X VENDEDOR DE "DEFESA PESSOAL"

Quando um instrutor de boxe pede para que você desferir um golpe, geralmente ele mostra uma nuance técnica, algo que é facilmente verificável em combate, que já foi feito centenas de milhares de vezes diante das câmeras, por exemplo. Isso ocorre porque lutas de ringue tem um repertório mais simples, e o resultado desejado pelo público é estimulado pelas regras, movimentação, ambiente e ética do esporte, para que o combate não vire um ato de selvageria. Não há necessidade de mostrar uma habilidade pessoal, pois isso será feito de qualquer jeito, pois as pessoas lutam de fato. A pessoa que está lá viu o que é a luta, e tem uma ideia ao menos do que seja, e a demonstração geralmente vem como parte objetiva na busca por um gesto técnico (reparem bem) real, dinâmico e de resultados verificáveis.

Já o vendedor profissional de defesa pessoal (tirando as exceções necessárias, uma vez que cada arte marcial ou tem um repertório de defesa pessoal ou a própria arte funciona como) tem a necessidade de provar que a fantasia que ele vende pode funcionar na prática, ainda que o fato de você ter sque usar o que sabe para salvar a vida por si só já demonstre o quanto a sua estratégia de prevenção foi fracassada. Por isso o "me bate que eu te mostro" é tão imprescindível; a habilidade do mestre em usar uma técnica "mortal" (obviamente o cara não vai te matar para mostrar, e muitas vezes nem mesmo seria capaz disso) de forma mais branda, derrubando, imobilizando, batendo num voluntário cria a ilusão que o mestre é o detentor de todas as respostas: mas e se o cara faz isso? "Zum!" E isso? Pá!!! A sonoplastia é também parte do show do mestre na maior parte das vezes. Não há qualquer garantia que a movimentação vá funcionar, ou que alguém da academia ou mesmo o professor tenha realizado o movimento numa luta de rua uma vez sequer na maior parte dos casos, ou mesmo seja capaz de reproduzir a técnica num combate amistoso com os alunos. Ou seja, você confia a sua vida a um tiro no escuro. Um tiro que, pelo menos na demonstração, tem hora, local e forma definida, justamente o oposto do ambiente chave para a validação da técnica/arte.

PORRA, BICHO, QUE PANCADA!!! VOCÊ VIU??!!!

Um grande amigo meu do passado havia ido a uma academia de Kung Fu, e logo vem a inelutável demonstração:
 - Mestre?
- Sim, filho.
- Mostre-me a pata do Dragão
- Pá!!!
- Mestre?!!!! Por que me bateu?
- Dragões nunca dormem, garfanhoto.

O soco de uma polegada, a pueril demonstração que Bruce Lee executava nos anos sessenta, uma mistura de biomecânica corporal e truque circense, valia-se do soco do Wing Chun para demonstrar que mesmo sem um grande espaço, uma pessoa pode gerar grande poder. A pessoa tomava um grande susto, na maior parte das vezes, recebendo um forte tranco para trás, ao receber o soco sobre um protetor e caia sobre uma cadeira colocada atrás dela , para dramatizar mais o truque. Outros tempos. No "me bate que eu mostro", a coisa pode ficar perigosa para o iniciante quando, sob pretexto de mostrar poder de punch, o mestre ou instrutor te desfere um golpe diretamente, e você gemendo , sentindo forte dor local torna-se a atração principal. "Eu (bato) te mostro". E tome torção. E tome chute na coxa. Soco na barriga, Pá!!! Nossa, quanto poder! Afinal, é toma lá, dá cá, você já teve a sua chance de bater antes.

Se alguém precisa te golpear sem te dar a chance de defesa para mostrar habilidade, com energia desproporcional ao objetivo da demonstração, você provavelmente está diante de um profissional inseguro, incompetente e, principalmente, que não se preocupa com sua segurança ou bem estar.

Obviamente há casos e casos, mas lembre-se quanto mais controlada (me bate!), difícil, cheia de malabarismos e com atos de violência é composta a demonstração das habilidades de um mestre de artes marciais, maior a probabilidade de ela não funcionar para você se realmente precisar, especialmente se você for uma pessoa comum, sem grandes habilidades ou força física. E que quanto mais um mestre está ávido para mostrar o que sabe, é bem provável que menos ele consiga colocar em prática o que demonstra. Um mestre realmente seguro não sente necessidade de se exibir.
















sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A NOVA REVOLUÇÃO QUE SE APROXIMA NO KUNG FU - por SiFu Marcos

Sifu Marcos em seminário com alunos de SiFu França

Nos últimos dias tem me chegado comentários de diferentes fontes e estilos de Wing Chun e Kung Fu de pessoas não satisfeitas com o trabalho de seus Sifu. Um recente texto na comunidade Wing Chun - Brasil do face, em que um praticante escreve um texto muito chocante no qual explica os motivos de seu desligamento de uma organização deste estilo é quase um resumo do que acontece em praticamente todas as escolas. 



Dia-a-dia de um SiFu que treina com os alunos de igual para igual


Não, não é nada que diga respeito nem à capacidade técnica, nem de ligação genuína com a fonte do conhecimento, num ambiente eivado de charlatões muito sofisticados e importados do exterior, mas da incapacidade destes mestres em relacionar o compromisso financeiro que estabelecem com seus seguidores e todas as qualidades intangíveis que são tão importantes para uma relação de aprendizado quanto qualquer fator econômico, como o respeito, a valorização do esforço, a ética, o sistema de premiação e graduação pelo mérito.



SiFu Marcos em sessão de fotos com sua filha primogênita


Kung Fu significa "Trabalho árduo". Quer dizer que neste processo, que não é fácil,devemos nos tornar indivíduos melhores. E que a figura do Sifu, o traduzido "Mestre-Pai" desta relação, não é apenas aquele que cobra, mas aquele que guia. Mas, pelo que sabemos, a figura do Sifu tem sido na prática a do sujeito que detêm um conhecimento altamente especializado que a todo custo tenta manter a sua reserva de mercado, ameaçando a todos que tentem pensar "fora caixa". E que ameaçam constantemente seus membros de desligamento, o que, no mundo do kung fu é considerado uma heresia: um praticante de kung fu sem um mestre seria um homem sem valor. E os indivíduos que estão nestes ambientes se embrenham numa busca pelo conhecimento do "completo sistema" a todo custo, empenham seu dinheiro, sua saúde, sua alma nisto, e se esquecem do sentido original das artes marciais, tornam-se escravos de uma busca que não tem honra, nem mesmo dignidade.




Treino diário = Dor


Há muito pouco tempo eu disse num fórum que a próxima revolução no kung fu no Brasil seria ética e moral, uma vez que já passamos pela revolução da informação a partir dos anos 90. O Sifu do futuro que já bate à porta deverá não apenas ter conhecimento, conexão genealógica, experiência e habilidade em luta, mas deverá ser ele mesmo um exemplo. Essa será a grande revolução em busca das origens do verdadeiro kung fu; não será o uniforme, a fantasia, a alienação com aspectos históricos duvidosos, mas a inteligência emocional, o fator psicológico, ético, a conexão profícua com a sociedade, o respeito às necessidades individuais dos alunos é que serão a tônica daqui para a frente.




Momento de descontração de SiFu, alunos e irmãos no kung fu de diferentes escolas


No mais, a quem tem conhecimento e está pensando em tornar-se um tutor, e um dia ser merecidamente reconhecido como um SiFu, um Mestre, eu diria para ao invés de fechar - como fez e faz a geração anterior e a nova desantenada com a nova realidade - abrir o conhecimento, para que o mercado se torne amplo e que as pessoas deixem de ser escravas de seus objetivos. Como profissional, como homem de família e guia de pessoas, eu digo que só tem medo de concorrência indivíduos inseguros, imaturos e incapazes. E ao praticante insatisfeito eu diria que a ousadia de mudar pode ser assustadora no começo, mas que não é de nada honroso seguir alguém que não te respeita, o teu esforço, o teu tempo, o teu dinheiro, a tua trajetória. Relações baseadas meramente em dinheiro são relações vazias e sem sentido. Se a sua relação com seu Sifu é assim, dê o fora. Ouse, não tenha medo de errar. Em algum lugar haverá alguém com tudo aquilo que imaginou. Passamos mais tempo tentando mudar gente que não vale a pena, do que realmente perder um tempo tentando achar alguém que a valha.




Certas imagens não precisam de enunciados

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Destrinchando o Muk Yam Jong, o boneco de madeira do Wing Chun, em uma análise de caso. Parte II

Pois é, assim como o personagem do game Tekken, Mukujin ( 木人) lit. Pessoa de Madeira, Uma corruptela de seu alter ego, Muk Yan Jong ( 木人...