Numa manhã ensolarada de um começo de verão escaldante, vou ao encontro de minha filha primogênita, Nathália. Cheio de expectativas, com o coração apertado, como sempre nestas ocasiões. Ela está prestes a fazer seis anos. Se tem uma coisa que aprendi na vida por intermédio da dor é que ninguém se acostuma com a falta de um filho. Ando ansioso e aperto o passo, mais duas quadras que não acabam nunca. Ela deve estar tão ou mais ansiosa do que eu. É a quinta vez que a vejo no espaço de dois anos. Uma longa rotina de dor que incluiu centenas de telefonemas sem retorno, promessas de encontros que nunca aconteceram, aniversários e natais perdidos para sempre. Muitas vezes, ao exigir uma explicação para o cancelamento de mais um encontro, a menina, ansiosa e não raro pronta para sair, era colocada ao fone, e cabia a mim explicar-lhe o porquê de não nos vermos...Os últimos encontros foram mais recentes, as coisas parecem ter melhorado, mas eu não estou satisfeito, por saber que toda essa recente reaproximação pode ser violentada novamente e a qualquer momento, o que me destruiria completamente, e sabe Deus quais as consequências para minha menina. Por isso, nunca me permito relaxar, e me dar toda a certeza de vou de fato vê-la, sempre espero pelo pior, uma supressão, um hiato em meu desejo, e guardo a saudade como única certeza. Ademais, visitas supervisionadas e condicionadas são para pais criminosos que maltratam os filhos, não para mim. Sua irmã Luiza, fruto de meu relacionamento atual, ela sequer conhece, nunca houve qualquer interesse de quem quer que seja que as duas se conheçam, o que me angustia mais ainda. Como farei que as duas irmãs exerçam o direito natural de se relacionarem? Não há receita para isto. Mas eu vou, cheio de esperança, pois me garantiram que não haveria problemas desta vez. Finalmente um pouco de bom senso.
Revejo o um dos porteiros do prédio em que ela mora, antigo companheiro de conversas distraídas, um homem grande de rosto enorme e gentil, mas com olhar agudo e com sotaque interiorano, depois de quase três longos anos. Pergunto a ele se resolvera seu problema com a mulher, adquirido na mesma época que eu. Sem muito ânimo e ele diz que sim, ele está de volta ao lar, e com filhos, fico feliz por ele, por causa dos filhos, seja como for, e é quando giro nos calcanhares me volto para minha filha, os olhos parecendo de uma chinesinha que sempre se apertam ao sorrir. "Papai!", ela diz, e meu coração dispara numa completa confusão de sentimentos, que devo comedir imediatamente para que as coisas não fujam ao controle.
Nathália não apenas tem meus traços, felizmente suavizados em seu rosto de menina, mas algumas características minhas que eu preferiria que não tivesse. Ela é tímida e tem mesmo hábito que eu de não olhar diretamente para as pessoas quando fala. Ela corre a meu encontro e quando chega à minha frente, para, abre os braços lentamente, e espera. Eu a abraço, e então ela me aperta num daqueles silêncios tão doloridos, mas que eu desejo que nunca se acabe. Eu a tomo nos braços num gesto brusco onde busco me exibir como um pai "grandão e fortão", ela ri do alto dos meus ombros, mas sinto que está chegando o dia em que colocá-la no colo será um problema para mim. Seja como for, serei forte o bastante para fazer este gesto sempre que ela quiser e o destino permitir. Ganhamos a rua.
Uma pessoa bem conhecida segue-me em meu caminho com a menina, a princípio apenas afetando coincidência. Não é a primeira vez que isto acontece, e quando acontece é só porque tenho a criança comigo, e isto tem um óbvio motivo nefasto sabido por mim. Ela, esta pessoa, que posso dizer ter um dia amado, faz gestos nervosos enquanto anda e começa a me dizer coisas de que não sei, juntando suposições daqui e dali, sem muitas conexões razoáveis, enquanto me olha de soslaio apertando o passo, os olhos muito injetados e nervosos. Ela então finalmente se interpõe bloqueando meu caminho e eu, ainda com a criança no colo, tento, pela enésima vez, tratá-la com o mínimo de educação que a situação exige, para que as coisas se mantenham no controle. Temo somente por minha filha, que agora esconde seu rosto entre a minha clávicula e pescoço, apertando-me mais com as perninhas me enlaçando a cintura. Jurei para mim mesmo que isto nunca mais aconteceria. Como fui tolo.
Caí novamente numa armadilha que, ingênuo, achei que o bom senso com o tempo resolveria. Ledo engano, tarde demais para arrependimentos. Agora essa pessoa invade meu espaço pessoal, aquela distância mínima crítica entre duas pessoas que tanto incomoda ao ser desrespeitada, e começa a pressionar o dedo indicador contra meu braço em quanto fala, queixo para cima, dentes arreganhados, como que para frisar o que diz. Tratar-se-ia de um gesto de intimidade ao leigo, mas vai ficando pior. "Por favor", digo eu contendo a indignação, "será que você pode falar sem me tocar?" Esquecera eu de carregar comigo a droga do celular com câmera, minha única defesa nestas ocasiões, pois basta o simples gesto de levantá-lo à minha frente para surtir o efeito equivalente a visão de um crucifixo por parte de um vampiro nesta pessoa.
Então o que eu mais temia acontece. A criatura, opressa, começa com as imprecações, epítetos e afins até descambar para a agressão verbal franca e sem reservas de censura, bom senso, tom ou volume. Eu me exaspero, tento manter o controle e matar, dentro de mim, o desejo de retrucar, de manter o orgulho e a dignidade, minha honra de homem, e me concentro em passar segurança para a criança. Começo a suar e sentir minhas pernas tremerem. Minha filha me aperta cada vez mais. "Será que não vê que, por mais que ache que tenha razão, que não goste de mim, vá lá, que eu seja tudo isso que diz, xingar-me na frente da criança não é razoável, que temos de preservar nossas imagens, pelo menos na frente dela?". "Ela é boba, não entende o que falo", ouço em resposta. Tomo este subestimar ultrajante da inteligência de minha filha como um outro gesto de violência, e sinto neste momento um grande asco, uma vontade de cuspir no chão.
"O que você perdeu com sua filha nos últimos dois anos não terá volta", ela me assevera. "Não haverá flashback, nem vídeo, nem reprise, você perdeu, perdeu, e perderá muito mais", diz com um sorriso odioso e louco no rosto. Concordo com ela. Mas eu sou adulto e estou preparado para lidar com isso. A insônia, e pelo lado oposto os pesadelos em bases diárias, são todos meus. O que perdi de Nathália dos quatro aos seis anos é algo com que terei de lidar pelo resto da vida. Mas como minha filha lida e lidará com isso? Como está a cabecinha dela? Será que um dia ela irá esquecer? Ficarão marcas deste dia? Oh, Deus, espero que não! O que ela pensa de mim, neste momento? Será que ela está me achando um homem fraco por não reagir? Como gostaria de reagir!!! Peço perdão repetidamente a minha filha em meu íntimo, por fazê-la passar por isso de novo, por minha ingenuidade, como uma pequena oração, enquanto busco uma saída para aquela armadilha tão óbvia que se amiudava.
Aguento firme mais alguns infinitos segundos, depois de ouvir ameaças e promessas de agressões futuras. "Você sabe quem eu sou. Do que eu sou capaz, que eu vou e faço mesmo!" vociferou espumando. Sim eu sei, como bem sei que, se isto acontecer novamente, ocorrerá única e obrigatoriamente se minha filha estiver presente. Vi uma vaidade tão insidiosa naquela autoafirmação covarde, toda apoiada em cima de uma pessoinha jovem demais para suportar uma carga dessas, que fiquei com bastante vergonha por ela, por mim mesmo, por todos nós, por esse teatro de ridículos.
Acabou. A agressora, não minha, mas de minha filha, foi-se embora murmurando algo para si entre esgares e muxoxos. Eu estou acabado e trêmulo, como se uma grande quantidade de energia me houvesse sido tirada. Coloco minha filha no chão e, num ato tão necessário quanto insuportável, ajoelho-me parcialmente perto dela, a fim de que fiquemos na mesma linha de olhar e, alisando-lhe os longos cabelos lisos, ponho-me a fazer uma calma porém imediata defesa de sua agressora, tentando amenizar o ocorrido. Por dentro, sinto-me vilipendiado, injustiçado. Sinto vontade de contar-lhe a minha versão da história, mas logo consigo afastar essa imbecilidade infantil, egoísta e mesquinha do pensamento, pedindo a Deus, ao diabo, ao destino, o que for, que um dia me faça alguma justiça, não para ferir ninguém - pois também aprendi no processo que o ódio só nos devora a nós mesmos, de forma que tento me livrar dele - mas tão somente para que minha filha não fizesse de mim pior juízo do que eu, de fato, mereço. Não sou nenhum santo, dono da razão nem quero que tenham pena de mim, pois cada um sabe de suas próprias dores, mas até mesmo numa guerra devem existir certas regras a serem seguidas.
Mas, sabe, é então que a própria Nathália, esse criança que não mais usa fraldas, mas que patina e pinta quadros e que tenho urgência em conhecer de novo, revela-se. Sem levantar os olhos a princípio, ela mexe nos seus próprios dedinhos, meditando, então levanta subitamente um olhar grande e surpreso para mim e diz, preocupada, daquela pessoa: "Papai, acho que Papai Noel não lhe dará presentes este ano!"... É, pode até ser, mas eu desconfio que acabo de ganhar o meu. Entendi que eu não tinha de estar preocupado com o que minha filha pensa de mim, mas tão somente em lutar para que essa violência contra ela não apenas não fique impune, mas não se repita mais. Tudo o que eu devo fazer, não importa quão raros, difíceis e dolorosos sejam meus momentos com ela, é ser e fazer o meu melhor, em cada segundo que passamos juntos, e confiar em sua inteligência, em seu discernimento, em seu coração. O meu presente neste dia foi , de certa forma, ganhar a minha filha para sempre. XX
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Uma pessoa bem conhecida segue-me em meu caminho com a menina, a princípio apenas afetando coincidência. Não é a primeira vez que isto acontece, e quando acontece é só porque tenho a criança comigo, e isto tem um óbvio motivo nefasto sabido por mim. Ela, esta pessoa, que posso dizer ter um dia amado, faz gestos nervosos enquanto anda e começa a me dizer coisas de que não sei, juntando suposições daqui e dali, sem muitas conexões razoáveis, enquanto me olha de soslaio apertando o passo, os olhos muito injetados e nervosos. Ela então finalmente se interpõe bloqueando meu caminho e eu, ainda com a criança no colo, tento, pela enésima vez, tratá-la com o mínimo de educação que a situação exige, para que as coisas se mantenham no controle. Temo somente por minha filha, que agora esconde seu rosto entre a minha clávicula e pescoço, apertando-me mais com as perninhas me enlaçando a cintura. Jurei para mim mesmo que isto nunca mais aconteceria. Como fui tolo.
Caí novamente numa armadilha que, ingênuo, achei que o bom senso com o tempo resolveria. Ledo engano, tarde demais para arrependimentos. Agora essa pessoa invade meu espaço pessoal, aquela distância mínima crítica entre duas pessoas que tanto incomoda ao ser desrespeitada, e começa a pressionar o dedo indicador contra meu braço em quanto fala, queixo para cima, dentes arreganhados, como que para frisar o que diz. Tratar-se-ia de um gesto de intimidade ao leigo, mas vai ficando pior. "Por favor", digo eu contendo a indignação, "será que você pode falar sem me tocar?" Esquecera eu de carregar comigo a droga do celular com câmera, minha única defesa nestas ocasiões, pois basta o simples gesto de levantá-lo à minha frente para surtir o efeito equivalente a visão de um crucifixo por parte de um vampiro nesta pessoa.
Então o que eu mais temia acontece. A criatura, opressa, começa com as imprecações, epítetos e afins até descambar para a agressão verbal franca e sem reservas de censura, bom senso, tom ou volume. Eu me exaspero, tento manter o controle e matar, dentro de mim, o desejo de retrucar, de manter o orgulho e a dignidade, minha honra de homem, e me concentro em passar segurança para a criança. Começo a suar e sentir minhas pernas tremerem. Minha filha me aperta cada vez mais. "Será que não vê que, por mais que ache que tenha razão, que não goste de mim, vá lá, que eu seja tudo isso que diz, xingar-me na frente da criança não é razoável, que temos de preservar nossas imagens, pelo menos na frente dela?". "Ela é boba, não entende o que falo", ouço em resposta. Tomo este subestimar ultrajante da inteligência de minha filha como um outro gesto de violência, e sinto neste momento um grande asco, uma vontade de cuspir no chão.
"O que você perdeu com sua filha nos últimos dois anos não terá volta", ela me assevera. "Não haverá flashback, nem vídeo, nem reprise, você perdeu, perdeu, e perderá muito mais", diz com um sorriso odioso e louco no rosto. Concordo com ela. Mas eu sou adulto e estou preparado para lidar com isso. A insônia, e pelo lado oposto os pesadelos em bases diárias, são todos meus. O que perdi de Nathália dos quatro aos seis anos é algo com que terei de lidar pelo resto da vida. Mas como minha filha lida e lidará com isso? Como está a cabecinha dela? Será que um dia ela irá esquecer? Ficarão marcas deste dia? Oh, Deus, espero que não! O que ela pensa de mim, neste momento? Será que ela está me achando um homem fraco por não reagir? Como gostaria de reagir!!! Peço perdão repetidamente a minha filha em meu íntimo, por fazê-la passar por isso de novo, por minha ingenuidade, como uma pequena oração, enquanto busco uma saída para aquela armadilha tão óbvia que se amiudava.
Aguento firme mais alguns infinitos segundos, depois de ouvir ameaças e promessas de agressões futuras. "Você sabe quem eu sou. Do que eu sou capaz, que eu vou e faço mesmo!" vociferou espumando. Sim eu sei, como bem sei que, se isto acontecer novamente, ocorrerá única e obrigatoriamente se minha filha estiver presente. Vi uma vaidade tão insidiosa naquela autoafirmação covarde, toda apoiada em cima de uma pessoinha jovem demais para suportar uma carga dessas, que fiquei com bastante vergonha por ela, por mim mesmo, por todos nós, por esse teatro de ridículos.
Acabou. A agressora, não minha, mas de minha filha, foi-se embora murmurando algo para si entre esgares e muxoxos. Eu estou acabado e trêmulo, como se uma grande quantidade de energia me houvesse sido tirada. Coloco minha filha no chão e, num ato tão necessário quanto insuportável, ajoelho-me parcialmente perto dela, a fim de que fiquemos na mesma linha de olhar e, alisando-lhe os longos cabelos lisos, ponho-me a fazer uma calma porém imediata defesa de sua agressora, tentando amenizar o ocorrido. Por dentro, sinto-me vilipendiado, injustiçado. Sinto vontade de contar-lhe a minha versão da história, mas logo consigo afastar essa imbecilidade infantil, egoísta e mesquinha do pensamento, pedindo a Deus, ao diabo, ao destino, o que for, que um dia me faça alguma justiça, não para ferir ninguém - pois também aprendi no processo que o ódio só nos devora a nós mesmos, de forma que tento me livrar dele - mas tão somente para que minha filha não fizesse de mim pior juízo do que eu, de fato, mereço. Não sou nenhum santo, dono da razão nem quero que tenham pena de mim, pois cada um sabe de suas próprias dores, mas até mesmo numa guerra devem existir certas regras a serem seguidas.
Mas, sabe, é então que a própria Nathália, esse criança que não mais usa fraldas, mas que patina e pinta quadros e que tenho urgência em conhecer de novo, revela-se. Sem levantar os olhos a princípio, ela mexe nos seus próprios dedinhos, meditando, então levanta subitamente um olhar grande e surpreso para mim e diz, preocupada, daquela pessoa: "Papai, acho que Papai Noel não lhe dará presentes este ano!"... É, pode até ser, mas eu desconfio que acabo de ganhar o meu. Entendi que eu não tinha de estar preocupado com o que minha filha pensa de mim, mas tão somente em lutar para que essa violência contra ela não apenas não fique impune, mas não se repita mais. Tudo o que eu devo fazer, não importa quão raros, difíceis e dolorosos sejam meus momentos com ela, é ser e fazer o meu melhor, em cada segundo que passamos juntos, e confiar em sua inteligência, em seu discernimento, em seu coração. O meu presente neste dia foi , de certa forma, ganhar a minha filha para sempre. XX
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9 comentários:
tocante man...tocante...
Sifu Marcos, não o conheço pessoalmente mas passei a ter profunda admiração pela sua pessoa, após ler esse relato, onde se deixa de lado qualquer vestígio de orgulho próprio em prol de um bem imensurável. Entendo perfeitamente seu sentimento pois já passei por situação semelhante. Nessas horas que se separam os homens de meninos.
É uma pena o Sr. não ser de SP. Gostaria muito de visitar sua academia.
Caro Fabio,
Agradeço de coração o elogio. Este é o tipo de violência que se alimenta do preconceito, e muitas vezes as próprias vítimas se vêem ou são estimuladas a se reconhecerem como culpadas da violência que sofrem.
É provável que eu logo separe este meu problema pessoal deste blog de artes marciais. E eu espero que quando tudo isto acabar eu possa de alguma forma trabalhar para que pais e filhos alienados sejam vistos, justiçados e, principalmente, que se perdoem de uma violência que não é deles, mas imposta pelo rancor.
Eu gostaria que fosse ao determinado link:
http://www.youtube.com/user/Marcos108applied
ou ainda:
http://www.kungfuwingchun.com.br
ou
http://www.facebook.com/AppliedWingChunSalvador
De certa forma é como você visitasse minha academia. Não sei que voltas a vida dá, mas quem sabe um dia a gente não se encontra e conversa?
Forte abraço,
Marcos.
Sifu Marcos,
Tambem sou pai e tenho sofrido algo muito parecido com o que você esta passando e no fundo nossas preocupações são bastante semelhantes, a de evitar quaisquer traumas às nossas pequenas, pelo menos aqueles que por qualquer motivo possamos evitar. Nesse sentido a arte marcial, acredito eu, nos ajuda. Tambem ganhei um presente de natal esse ano quando tive minha filhota comigo e meus familiares apos 2 anos.
Lhe escrevo com lagrimas nos olhos relembrando o que foi ficar afastado dela, e que no meu caso foram apenas 10 meses.
Caso tenha interesse gostaria de marcar uma conversa e quem sabe podemos nos ajudar mutuamente.
Abraços de um PAI a outro PAI,
Marcus Bianco Lima
Sifu Marcos,
Parabéns pelo trabalho realizado.
Visitei os links e não me desapontei. É uma pena que hoje existe tão pouca gente séria na arte marcial, particularmente no wing chun.
Desejo de todo coração muita sorte e felicidade em sua jornada.
Caro Marcus,
Estes textos que escrevi no blog (dois) e tantos outros escritos nas madrugadas insones e que não publiquei existem porque não tive ninguém para me ouvir. Fui acusado por toda a minha família, as pessoas que me eram mais caras, de não querer ver minha filha, e este discurso foi usado e repetido por parte dos alienadores de forma exaustiva em todos lugares. É feita uma campanha de desmoralização. Como sou lutador, fui provocado, agredido fisicamente inúmeras vezes, ameaçado de morte e, mesmo sem ter levantado a mão sequer uma vez para alguém, passei a ter a fama de uma pessoa violenta, quando na verdade o treinamento marcial me serviu tanto para me defender sem machucar o agressor quanto para manter uma calma que certamente um homem destreinado teria sérias dificuldades. Você fica sem ajuda, sem voz, e não raro aceita a culpa que impõem a você. Mas aprendi muito no processo. Primeiro, que para nossa sociedade você vale o quanto você tem em dinheiro, e isso é particularmente verdadeiro para as vítimas deste crime. Segundo, que aqueles que ficaram do seu lado num processo que se alimenta da calúnia, do preconceito e de distorções muito sutis e cruéis, provavelmente estarão a seu lado para qualquer coisa. Terceiro, que não existem limites num ato de vingança, não importa o quão próxima ou cara esta pessoa lhe tenha sido no passado. Por último, que a dor de não ter um filho por perto é tão grande e devastadora que precisamos - nós homens criados para fingir que não choramos ou sofremos - reconhecer que precisamos de ajuda profissional neste processo, tanto emocional quanto juridicamente.
Tanto você quanto o Fábio, se tiverem perfil no Facebook, adicionem-me. Conversar ajuda muito e eu gostaria de conhecer as experiências de vocês e aprender com elas.
Forte abraço e obrigado por se abrirem e dividirem comigo suas experiências.
http://www.facebook.com/sifumarcos
Que desabafo..
Quando leio esse tipo de relato, apesar de triste, me dá uma certa "esperança" ao ver que tem muitos pais por aí querendo ser presentes na vida dos filhos, e por isso não admito quando chegam para mim para dizer "homem é assim mesmo, tem o filho e depois foge, a responsabilidade é só da mãe mesmo". Estar presente na vida da sua filha é um direito seu. Além do mais você a ama, tem mais é que tá junto mesmo, filho não é só da mãe, ou só do pai. São dos dois. Essa mulher é louca. Sou mãe e minha situação é bem diferente da sua; o pai do meu filho que não faz questão de vê-lo; quando nos separamos estipulei visitação livre, ficar 1 final de semana comigo e outro com ele, tudo para facilitar a presença do pai... Mas o pai jamais o vê em dias de semana e nesses de 15 em 15 dias que vai buscar são os avós; ele até chega a ver o filho, mas se tiver uma viagem, feriados, etc, é bolo na certa. Já me estressei bastante, reclamei, falei que ele tá desapontando o filho, etc, mas não tem jeito. Falta amor, e isso justiça nenhuma muda.
Parabéns por sua atitude e por ser um pai de verdade.
Espero que dê tudo certo pra você e sua filha.
Beijos.
Danielle,
Li com interesse seu depoimento. Eu tenho certeza que seu amor por seu filho será grande o suficiente para provê-lo daquela segurança e porto seguro que os filhos buscam na figura do "Pai", que o genitor de seu filho omite, ou desdenha. É uma pena, pois o tempo vai passar e este homem vai entender quanto tempo perdeu, talvez quando quiser uma relação de intimidade com filho, talvez seja muito tarde.
É muito tentador, tendo um veículo com um certo alcance como este, querer fazer partidarismo, uma vez que sou réu em um processo que trata de minha filha.
Nos meus textos eu foco no sofrimento psicológico quase indescritível de pai e filho no processo, os textos são resultados de madrugadas de dor e choro que não tem ouvidos ou colo.
Por incrível que pareça, Danielle, os agentes alienantes não são pessoas - penso eu, por ter vivido com eles por muitos anos - melhores ou piores que você e eu. Eles apenas não tem, ou fingem não ter, a dimensão de quão arrasadora e desastrada é sua atuação num processo que é longo de dolorido. E que o conforto psicológico para uma criança de pais separados é tão importante quanto o conforto financeiro.
A alienação parental é um processo tão complexo que qualquer definição curta pode ser perigosa.
Independente de estar brigando por minha filha, e de querer justiça, eu espero que o amor por ela prevaleça, e o bom senso impere. Se o objetivo de tudo isso era destruir-me, posso dizer que eles foram completamente bem sucedidos. Nunca mais olharei as pessoas da mesma, estou mudado e marcado para sempre. Mas tenho esperança. Como diz a canção: ...tudo passa/tudo passará... ao menos para ela, espero.
Bj, se cuida.
Sifu Marcos, nenhuma ação aqui fica sem retribuição, vc tera sua justiça e sua felicidade de volta. tenho certeza.
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