sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A NOVA REVOLUÇÃO QUE SE APROXIMA NO KUNG FU - por SiFu Marcos

Sifu Marcos em seminário com alunos de SiFu França

Nos últimos dias tem me chegado comentários de diferentes fontes e estilos de Wing Chun e Kung Fu de pessoas não satisfeitas com o trabalho de seus Sifu. Um recente texto na comunidade Wing Chun - Brasil do face, em que um praticante escreve um texto muito chocante no qual explica os motivos de seu desligamento de uma organização deste estilo é quase um resumo do que acontece em praticamente todas as escolas. 



Dia-a-dia de um SiFu que treina com os alunos de igual para igual


Não, não é nada que diga respeito nem à capacidade técnica, nem de ligação genuína com a fonte do conhecimento, num ambiente eivado de charlatões muito sofisticados e importados do exterior, mas da incapacidade destes mestres em relacionar o compromisso financeiro que estabelecem com seus seguidores e todas as qualidades intangíveis que são tão importantes para uma relação de aprendizado quanto qualquer fator econômico, como o respeito, a valorização do esforço, a ética, o sistema de premiação e graduação pelo mérito.



SiFu Marcos em sessão de fotos com sua filha primogênita


Kung Fu significa "Trabalho árduo". Quer dizer que neste processo, que não é fácil,devemos nos tornar indivíduos melhores. E que a figura do Sifu, o traduzido "Mestre-Pai" desta relação, não é apenas aquele que cobra, mas aquele que guia. Mas, pelo que sabemos, a figura do Sifu tem sido na prática a do sujeito que detêm um conhecimento altamente especializado que a todo custo tenta manter a sua reserva de mercado, ameaçando a todos que tentem pensar "fora caixa". E que ameaçam constantemente seus membros de desligamento, o que, no mundo do kung fu é considerado uma heresia: um praticante de kung fu sem um mestre seria um homem sem valor. E os indivíduos que estão nestes ambientes se embrenham numa busca pelo conhecimento do "completo sistema" a todo custo, empenham seu dinheiro, sua saúde, sua alma nisto, e se esquecem do sentido original das artes marciais, tornam-se escravos de uma busca que não tem honra, nem mesmo dignidade.




Treino diário = Dor


Há muito pouco tempo eu disse num fórum que a próxima revolução no kung fu no Brasil seria ética e moral, uma vez que já passamos pela revolução da informação a partir dos anos 90. O Sifu do futuro que já bate à porta deverá não apenas ter conhecimento, conexão genealógica, experiência e habilidade em luta, mas deverá ser ele mesmo um exemplo. Essa será a grande revolução em busca das origens do verdadeiro kung fu; não será o uniforme, a fantasia, a alienação com aspectos históricos duvidosos, mas a inteligência emocional, o fator psicológico, ético, a conexão profícua com a sociedade, o respeito às necessidades individuais dos alunos é que serão a tônica daqui para a frente.




Momento de descontração de SiFu, alunos e irmãos no kung fu de diferentes escolas


No mais, a quem tem conhecimento e está pensando em tornar-se um tutor, e um dia ser merecidamente reconhecido como um SiFu, um Mestre, eu diria para ao invés de fechar - como fez e faz a geração anterior e a nova desantenada com a nova realidade - abrir o conhecimento, para que o mercado se torne amplo e que as pessoas deixem de ser escravas de seus objetivos. Como profissional, como homem de família e guia de pessoas, eu digo que só tem medo de concorrência indivíduos inseguros, imaturos e incapazes. E ao praticante insatisfeito eu diria que a ousadia de mudar pode ser assustadora no começo, mas que não é de nada honroso seguir alguém que não te respeita, o teu esforço, o teu tempo, o teu dinheiro, a tua trajetória. Relações baseadas meramente em dinheiro são relações vazias e sem sentido. Se a sua relação com seu Sifu é assim, dê o fora. Ouse, não tenha medo de errar. Em algum lugar haverá alguém com tudo aquilo que imaginou. Passamos mais tempo tentando mudar gente que não vale a pena, do que realmente perder um tempo tentando achar alguém que a valha.




Certas imagens não precisam de enunciados

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4 comentários:

Unknown disse...

Escrevi este texto rapidamente agora pela manhã, corrido que estou com o meu treinamento e compromissos pessoais.

É provável que lá pelo dia 19/11 façamos um novo contato com o clã do Sifu Leo Imamura para um Hangout onde será discutida a diferença entre um Mestre e um Sifu, e que será transmitido ao vivo pelo Google. Mais um conexão entre a nossa comunidade, público leigo e autênticos membros da família Ving Tsun/Wing Chun mundial. Vou corrigindo o português do texto e o melhorando aos poucos. Abraço a todos.

Ed disse...

Otimo texto Sifu.. otimo mesmo...

Anônimo disse...

Só na base da Skol... Esses são dos meus! Posso levar minha churrasqueira portátil para sua academia? Brincadeiras a parte, hj existe a banal idéia que kung Fu não presta. Não é que o Kung Fu não preste, o que não presta é o que é ensinado para a maior parte dos alunos. Existem muitos charlatões nessa arte. O aluno não aprende nada, sai dizendo para todo mundo que luta Kung Fu e quando é "tentado" para lutar, leva uma enorme surra e depois o que fica com má fama é o Kung Fu!

Unknown disse...

Caro Braulio,

Realmente,rs, gente adora tomar uma cerveja (nem todos, alguns são abstêmios) depois dos treinos, principalmente na sexta-feira, quando fazemos os combates na escola. Em escolas de Kung Fu tradicional existe um processo de convívio extra-classe e uma procura por colocar os princípios universais da arte no dia-a-dia chamado "Sam Fat"

O charlatanismo é algo que combato sem trégua desde que me tornei conhecido neste ramo, junto a outros mestres de outros estilos. E por isso mesmo neste exato momento acabei de ler criticas negativas a meu respeito em redes sociais. Talvez por suas característica exotéricas, roupas e filmes as pessoas tenham uma visão fantasiosa do Kung Fu. Por outro lado, o perfil do charlatão também mudou e se sofisticou, tornando muito difícil sua identificação pelo leigo.

O nosso estilo, o "Wing Chun Kuen" segue o mesmo padrão descrito por você no mundo inteiro: muita garganta para pouca eficácia. Nisto demos alguma sorte. Nosso "grão-mestre", por assim dizer (ele não usa o título), é um dos lutadores mais bem sucedidos da arte, e seu logo é muito simples, aplicar na prática o que é treinado. Então, treinamos numa base mais realista e tentamos adaptar um pouco a técnica para o esporte, embora não seja nosso foco principal.

Um forte abraço e obrigado por comentar!

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